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AZINHAGA (2017 - 2021)

“Minha aldeia era rodeada de olivais, com oliveiras antigas de troncos enormes. Elas desapareceram. Senti-me como se tivessem me roubado a infância. Hectares e hectares de oliveiras desapareceram para dar lugar a culturas mais lucrativas. A aldeia não mudou tanto, foi a paisagem que mudou. E essa mudança radical na paisagem foi, para mim, uma espécie de golpe no coração. 

Regressar a Azinhaga, agora, é regressar a outro lugar que já não é o meu. " José Saramago

Que resquícios de nós mesmos, e de nossas vivências, poderíamos encontrar sob um espaço drasticamente transformado?

Em Azinhaga busco tocar a relação indissociável entre histórias de vidas e os espaços físicos onde  ocorreram essas histórias. Toda memória tem seu cenário. De forma equivalente, todo cenário tem também sua própria estória. Mutuamente, contemos e estamos contidos nele. Marcamos e somos marcados por ele. Se, por um lado, com os processos históricos que inevitavelmente transfiguram as paisagens, muitos lugares passam a existir apenas na memória (e nas fotografias antigas), por outro, os espaços físicos que  serviram de palco, e os próprios materiais que deram corpo a esses espaços, e que foram sendo soterrados, arrancados, empilhados, também contêm as memórias que por eles passaram. Invisíveis a olho nu, mas presentes como espectro. Partindo dessa premissa, em Azinhaga exploro oras o encontro, e oras o confronto entre memória e matéria. Em alusão à primeira, que é fragmentária, me utilizo de recortes fotográficos criados a partir de imagens apropriadas de famílias cujos palcos, assim como o de Saramago, se transformaram. Em paralelo, a utilização de elementos característicos da construção civil, tais como blocos de concreto e cimento, materializam a ideia do constante transformar das cidades.  Percorro por variadas estratégias tais como justaposições de cenas de afeto e de implosões; paralelos visuais entre blocos de concreto empilhados e lembranças do passado, experimentos físicos entre o suporte fotográfico e cimento. A partir dessas estratégias, memória e matéria vão se tocando constantemente, refletindo acerca do que permanece ou fenece. Em dado momento do percurso aqui proposto, uma implosão parece levar consigo todo o resto. Uma única pedra dourada, representando tudo aquilo que é benquisto, resiste ao tempo.  

O que fica afinal?

Este projeto foi selecionado pelo edital do Nova Fotografia 2023, através do qual ganhou uma exposição individual no MIS-SP. Foi ainda selecionado em 2021 para o Festival de Fotografia Experimental de Barcelona e para o Pequeno Encontro de Fotografia de Pernambuco. 

 

 

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